19 novembro 2009

O amor. é foda!

A gente flagra demonstrações de amor nos lugares mais inusitados as vezes. Na rua, na chuva na fazenda. Ou numa casinha de sapé. Ou numa borracharia. Ou dentro de nós mesmos.

Ontem, mais uma vez, fui na borracharia do Baiano. Em toda minha vida automobilística, dois “calcanhares de Aquiles” (afinal temos duas pernas, certo?) me acompanharam desde que tirei minha permissão de dirigir (lá se vão dez anos). Pneus, amortecedores e escapamentos. É, percebi que citei três “coisas”, mas é que achei a comparação com os calcanhares bem legal.

Enfim, de todos os carros eu precisei trocar pneus, amortecedores e escapamentos. Dos dois últimos, várias vezes, inclusive no mesmo carro. Ou em partes, como o silenciador traseiro, o catalizador e a parte central do escapamento, ou por unidades, como o amortecedor traseiro direito ou o dianteiro esquerdo.

Neste sábado foi o pneu. Um buraco lá em Ponta Grossa formou uma corcova no meu pneu da frente, o direito, e o volante tremia demais quando eu andava. Lá no Baiano, troquei por um outro que meu pai guardava em casa. Pronto, serviço feito.

Mas nesse meio tempo veio a prosa. Já meu amigo, visto que o prestigiei em seu estabelecimento várias vezes, Baiano desandou a falar. Contou sobre sua casinha, seu filho e sua mulher. Aqui é que eu queria chegar.

Poucas vezes vi alguém falar da “sua véia” com tanto carinho e admiração. Narrou suas atividades diárias, de como ela limpa, lava, cozinha, passa costura e cuida do jardim e das suas coisinhas com uma admiração ímpar. Disse que ela é capaz de varar a noite só para ter aquela sensação gostosa do dever comprido.

Contou, com um largo sorriso no rosto, que faz graça com as irmãs dela e diz que mesmo que morresse e nascesse de volta, casaria com sua “Rumilda”. Opa, corrigiu-se, “Romilda”. “Se eu falar que é Rumilda, ela fica louca. Pode alguém registrar uma pessoa com nome de Rumilda? Ela deve ser a única do mundo. Coisa de escrivão mesmo”, disse. Mas, retomando o assunto, disse que as cunhadas se rasgam de ciúme dos seus gracejos quando elogia Romilda.

Aquela mulher é sensacional. Dia desses, narrou, desandou a brigar comigo porque resolvi tirar uns matos do jardim com uma enxada. “Você ta louco. Larga isso, que você não sabe fazer nada direito. Olha as toceiras de terra que você arranca junto com os matos?”. Parei na hora, disse ele, mas fiz só para irritá-la mesmo, brincou. “Parei, pois discutir com ‘Alêmoa’ é uma desgraça. Eles falam demais”, concluiu.

Baiano, durante toda a prosa, ria com um orgulho danado. Coisa de quem ama mesmo. Fiquei feliz só em saber que alguém era amado com tanta intensidade, mesmo depois de 47 anos de casamento.

Lembrei da minha muié, que me abandonou durante o fim de semana, e o peito se apertou. Pensei nela o tempo todo e não vejo a hora de abraçá-la de volta. A hora esta chegando. Graças a Deus.

04 novembro 2009

O preço da felicidade...

Na quinta-feira encarei uma micro-crise no meu relacionamento. Ferrado de grana, propus “pular fora” de uma viagem à Ponta Grossa para participar das festividades do cumpleaños do meu cunhado e aproveitar o feriado. A mulher queria matar a saudade de parentes e amigos e eu ia no embalo, pensando em descansar e fugir dos problemas (financeiros) que surgem na nossa vida.

Foi uma choradeira. A mulher, embora tenha concordado que as dificuldades financeiras têm sido um complicador nas nossas vidas, se rebelou e disse que não iria se eu não fosse (a ideia era ela ir de ônibus e eu ficar por aqui para reduzir os custos da viagem). Depois da “discussão”, satisfeito por ter passado para ela que a coisa não estava nada boa, cedi e fomos para lá na sexta-feira.

Se eu soubesse (suspeitava) que tudo seria como foi, não teria criado essa micro-crise. Na ponta do lápis, o custo foi praticamente o mesmo indo de carro do que ela ter ido sozinha de busão. Só gastamos com gasosa e pedágio. SÓ. Lá, tudo bancado pelo irmão (que não é rico, longe disso mesmo), mas é magnata de amigos. Numa força tarefa, locaram uma chácara e forneceram a carne. O povo que ia para lá (nos três dias de festa, típica de polaco) só precisava levar a bebida.

Gente muito boa, música boa (tinha um violeiro no sábado a noite que era sacanagem. Tocava muito), clima agradável por demais, comida e bebida da melhor qualidade e descanso merecido. Barraca armada em local estratégico, perto de um “córgo” (córrego, para quem não manja do linguajar caboclo), pescaria (120 lambaris de saldo por um dia de pesca), duzentas picadas de butucas e “porvinhas” e um sorriso largo, de orelha a orelha.

Baterias recarregadas (após levar uma canseira das priminhas fofinhas da patroa), alma lavada. Cheiro de peixe nas mãos, mas cabeça leve. As contas vencidas seguem atrás de mim, mas terão mais trabalho do que nunca para me derrubar. Sou feliz... simples, mas feliz. Seja você também.

Boa semana.